A Máxima Fundamental que resume o conjunto do Positivismo é: "O Amor por Princípio e a Ordem por Base; O Progresso por Fim. Assim, é oportuna e significativa a pergunta que por vezes se lança a respeito da razão pela qual justo o Amor não figura no lema da bandeira nacional. Teria ele sido de fato "omitido" ou, pior ainda, "suprimido"? Qual a razão disso? Teria sido a nossa bandeira o produto de uma espécie de adulteração dos ideais positivistas? Quatro pontos devem a nosso ver ser considerados aqui, ao tentar oferecer uma resposta a estas interrogações. O primeiro é que a bande ira do Brasil foi concebida por Teixeira Mendes como PROVISÓRIA. Ela foi criada com vistas a preparar a sociedade para a adoção natural de um outro pavilhão, no qual a Máxima Fundamental seria inscrita por completo. Ora, para que uma tal mudança pudesse se operar de modo ESPONTÂNEO, seria necessário antes de tudo que se começasse a notar a FALTA desse primeiro elemento, o que, por sua vez só é possível (como expressão coletiva plena) na medida em que a sociedade, como um todo, amadurecer emocionalmente e se instruir filosoficamente a ponto de ao menos simpatizar e familiarizar-se com a referida Máxima completa. O que se desejou com esta bandeira provisória foi, pois, dar à sociedade a chance de que ela própria começasse um dia a sentir a falta (e a exigir a presença) do amor em seu pavilhão, como um elemento fundamental de seus mais altos ideais. Ora, é justamente isso o que a pergunta "aonde foi parar o amor na faixa da nossa bandeira" parece traduzir no fundo; dando já - não ainda como clamor mas como estranheza - seus primeiros e tímidos sinais de presença. Segundo ponto: Na ocasião inicial de sua proposição, o esboço da bandeira nacional constava de uma frente e de um verso com inscrições DISTINTAS. Numa das faces do pavilhão lia-se, de fato, ao longo da faixa branca, apenas o lema Ordem e Progresso, sem o Amor; mas em compensação, no outro lado achava-se nada menos que a MÁXIMA MORAL SUPREMA da Religião da Humanidade; a saber, o dístico "Viver para outrem", de autoria de Clotilde de Vaux, a Co-fundadora do Positivismo. Ora, este último lema não apenas versa sobre o Amor caracterizando sua natureza, como mostra-o em seu supremo grau de expansão. Assim, quando se pergunta se o amor teria sido suprimido da bandeira, representando esta o produto de um positivismo mutilado emocionalmente, a resposta é "não" se considerarmos que de fato o Positivismo tem como um de seus muitos lemas SECUNDÁRIOS, o dístico Ordem e Progresso. Mas a resposta honesta a essa pergunta terá que ser afirmativa se pensarmos que, ao fazer coincidir nos dois lados da bandeira um só e mesmo lema (que não versa sobre o amor, ao menos explicitamente) o que se operou aí foi sim uma inegável supressão do Amor, com todo o empobrecimento afetivo que daí decorre. Terceira questão. A Máxima Fundamental do Positivismo não teve uma só redação, mas duas. Ela assumiu primeiro a seguinte forma: "O Amor por Princípio, a Ordem por Base e o Progresso por Fim." Esta primeira redação foi SUBSTITUÍDA por Augusto Comte por aquela com a qual iniciamos este texto, e que foi considerada por ele como definitiva. Julgar-se-ia talvez à primeira vista tratar-se de uma diferença sem muito relevo, quase imperceptível até. No entanto, por menos que pareça, a transformação desta fórmula foi uma dessas muitas consequências sutis da enorme evolução do filósofo como pessoa, evolução esta que o tornou capaz de sentir, compreender e expressar que tudo na vida, tanto as ações que caracterizam o progresso, quanto as concepções que caracterizam a ordem estão INTEIRA E NECESSARIAMENTE SUBORDINADOS ao prevalecimento dos nossos afetos. Foi esse pensamento que tornou possível a formulação do problema humano como sendo a questão de como encontrar, antes de tudo os meios mais eficazes de faclitar o prevalecimento habitual do amor em cada um de nós. Ora, tal como havia sido redigida antes, a fórmula ainda se mostrava frágil, tanto que comportou com facilidade a decomposição que veio a resultar no célebre lema Ordem e Progresso, surgido, diga-se, na época da primeira redação, e baseado portanto nela. Notemos ainda que a fragilidade da primeira fórmula não se deveu a nada além de que - ao ligar pelo conectivo "e" os dois últimos termos; isolando o primeiro - criou-se a possibilidade de exclusão do amor, ao passo que na segunda redação, nem mesmo a simples separação é mais possível, sequer do ponto de vista da simples observação visual. A última versão da fórmula é pois a única a traduzir de fato o mais bem acabado pensamento do filósofo, segundo o qual só o altruísmo (o Amor) UNINDO-SE ao conhecimento científico das leis naturais do mundo e do homem (a Ordem Universal) que consegue guiar a atividade pacífica (o Progresso). Nosso ponto-de-vista pessoal diante do exposto aqui é o de que a fórmula fundamental do positivismo NÃO COMPORTA, a rigor, NENHUMA VERDADEIRA DECOMPOSIÇÃO, representando pois a fração "Ordem e Progresso" apenas o ASPECTO EXTERIOR, visível do grande lema. A propósito, como parêntesis, nos dias de hoje a já universal expressão DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL talvez até traduzisse melhor a idéia comteana de ordem e progresso: se no binômio original o conectivo "e" mostra a ordem como compatível com o progresso, o lema desenvolvimento sustentável não só figura noutros termos o mesmo binômio harmonizado, como aponta para a efetiva necessidade de subordinação do progresso à ordem, que é o que de fato consiste na possibilidade real da sua conjugação mútua. Quarto ponto. Numa carta ao seu discípulo Pierre Laffitte, é o próprio Augusto Comte que denomina INSUFICIENTE a fórmula Ordem e Progresso, frisando que a indissolubilidade da união dos três elementos, AMOR, ORDEM, PROGRESSO, é o pré-requisito de toda solução verdadeiramente positiva para qualquer problema humano.
Foto: A Máxima Fundamental que resume o conjunto do Positivismo é: "O Amor por Princípio e a Ordem por Base; O Progresso por Fim. Assim, é oportuna e significativa a pergunta que por vezes se lança a respeito da razão pela qual justo o Amor não figura no lema da bandeira nacional. Teria ele sido de fato "omitido" ou, pior ainda, "suprimido"? Qual a razão disso? Teria sido a nossa bandeira o produto de uma espécie de adulteração dos ideais positivistas? Quatro pontos devem a nosso ver ser considerados aqui, ao tentar oferecer uma resposta a estas interrogações. O primeiro é que a bandeira do Brasil foi concebida por Teixeira Mendes como PROVISÓRIA. Ela foi criada com vistas a preparar a sociedade para a adoção natural de um outro pavilhão, no qual a Máxima Fundamental seria inscrita por completo. Ora, para que uma tal mudança pudesse se operar de modo ESPONTÂNEO, seria necessário antes de tudo que se começasse a notar a FALTA desse primeiro elemento, o que, por sua vez só é possível (como expressão coletiva plena) na medida em que a sociedade, como um todo, amadurecer emocionalmente e se instruir filosoficamente a ponto de ao menos simpatizar e familiarizar-se com a referida Máxima completa. O que se desejou com esta bandeira provisória foi, pois, dar à sociedade a chance de que ela própria começasse um dia a sentir a falta (e a exigir a presença) do amor em seu pavilhão, como um elemento fundamental de seus mais altos ideais. Ora, é justamente isso o que a pergunta "aonde foi parar o amor na faixa da nossa bandeira" parece traduzir no fundo; dando já - não ainda como clamor mas como estranheza - seus primeiros e tímidos sinais de presença. Segundo ponto: Na ocasião inicial de sua proposição, o esboço da bandeira nacional constava de uma frente e de um verso com inscrições DISTINTAS. Numa das faces do pavilhão lia-se, de fato, ao longo da faixa branca, apenas o lema Ordem e Progresso, sem o Amor; mas em compensação, no outro lado achava-se nada menos que a MÁXIMA MORAL SUPREMA da Religião da Humanidade; a saber, o dístico "Viver para outrem", de autoria de Clotilde de Vaux, a Co-fundadora do Positivismo. Ora, este último lema não apenas versa sobre o Amor caracterizando sua natureza, como mostra-o em seu supremo grau de expansão. Assim, quando se pergunta se o amor teria sido suprimido da bandeira, representando esta o produto de um positivismo mutilado emocionalmente, a resposta é "não" se considerarmos que de fato o Positivismo tem como um de seus muitos lemas SECUNDÁRIOS, o dístico Ordem e Progresso. Mas a resposta honesta a essa pergunta terá que ser afirmativa se pensarmos que, ao fazer coincidir nos dois lados da bandeira um só e mesmo lema (que não versa sobre o amor, ao menos explicitamente) o que se operou aí foi sim uma inegável supressão do Amor, com todo o empobrecimento afetivo que daí decorre. Terceira questão. A Máxima Fundamental do Positivismo não teve uma só redação, mas duas. Ela assumiu primeiro a seguinte forma: "O Amor por Princípio, a Ordem por Base e o Progresso por Fim." Esta primeira redação foi SUBSTITUÍDA por Augusto Comte por aquela com a qual iniciamos este texto, e que foi considerada por ele como definitiva. Julgar-se-ia talvez à primeira vista tratar-se de uma diferença sem muito relevo, quase imperceptível até. No entanto, por menos que pareça, a transformação desta fórmula foi uma dessas muitas consequências sutis da enorme evolução do filósofo como pessoa, evolução esta que o tornou capaz de sentir, compreender e expressar que tudo na vida, tanto as ações que caracterizam o progresso, quanto as concepções que caracterizam a ordem estão INTEIRA E NECESSARIAMENTE SUBORDINADOS ao prevalecimento dos nossos afetos. Foi esse pensamento que tornou possível a formulação do problema humano como sendo a questão de como encontrar, antes de tudo os meios mais eficazes de faclitar o prevalecimento habitual do amor em cada um de nós. Ora, tal como havia sido redigida antes, a fórmula ainda se mostrava frágil, tanto que comportou com facilidade a decomposição que veio a resultar no célebre lema Ordem e Progresso, surgido, diga-se, na época da primeira redação, e baseado portanto nela. Notemos ainda que a fragilidade da primeira fórmula não se deveu a nada além de que - ao ligar pelo conectivo "e" os dois últimos termos; isolando o primeiro - criou-se a possibilidade de exclusão do amor, ao passo que na segunda redação, nem mesmo a simples separação é mais possível, sequer do ponto de vista da simples observação visual. A última versão da fórmula é pois a única a traduzir de fato o mais bem acabado pensamento do filósofo, segundo o qual só o altruísmo (o Amor) UNINDO-SE ao conhecimento científico das leis naturais do mundo e do homem (a Ordem Universal) que consegue guiar a atividade pacífica (o Progresso). Nosso ponto-de-vista pessoal diante do exposto aqui é o de que a fórmula fundamental do positivismo NÃO COMPORTA, a rigor, NENHUMA VERDADEIRA DECOMPOSIÇÃO, representando pois a fração "Ordem e Progresso" apenas o ASPECTO EXTERIOR, visível do grande lema. A propósito, como parêntesis, nos dias de hoje a já universal expressão DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL talvez até traduzisse melhor a idéia comteana de ordem e progresso: se no binômio original o conectivo "e" mostra a ordem como compatível com o progresso, o lema desenvolvimento sustentável não só figura noutros termos o mesmo binômio harmonizado, como aponta para a efetiva necessidade de subordinação do progresso à ordem, que é o que de fato consiste na possibilidade real da sua conjugação mútua. Quarto ponto. Numa carta ao seu discípulo Pierre Laffitte, é o próprio Augusto Comte que denomina INSUFICIENTE a fórmula Ordem e Progresso, frisando que a indissolubilidade da união dos três elementos, AMOR, ORDEM, PROGRESSO, é o pré-requisito de toda solução verdadeiramente positiva para qualquer problema humano.